Que fúria sinto ao ver o sol se ascendendo perante o céu; lágrimas desbotadas no calor do firmamento! Nos intróitos da memória, encontro um lugar em que o sol me foi triste, mas não tanto. Reencontro nessa terna infância os prazeres de ser-me humano.
Mas a fúria... Oh esta raiva...
Vísceras entornando sobre o solo e nelas vejo o tom vermelho com que pinto a minha ira. Choco versos do topo dos pulmões e atinjo-os na garganta p'ra que morram sem falar.
Algo nessas ideações me sugere a violência do nascimento, os gritos da mãe no parto. Seus órgãos expandidos ao limite do incompreensível; e como poderia o homem entender essa loucura de ser mãe, de ser um criador de vidas na Literatura da Vida, nomeando seus homúnculos como Adão embebecido, e a espairecer nas nuvens tal a Virgem do Sem-Pecado?
Como poderiam os vórtices do universo
entender o próprio cosmos...
Rege nos sonhos um jazigo de inquietude; e se me levanto de manhã, é para fazer alguma coisa, que a vida jaz finita. As insónias que me atormentam... os prazeres de um desbocado...
que só vive
o seu calor.
Autor: Tiago de Sousa
Ilustração: Inês Hermenegildo
Edição de Imagem: Guilherme Luís