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Ir ver o “The French Dispatch” ao cinema foi uma experiência extremamente catártica! Foi o primeiro filme que vi num grande cinema desde o início da pandemia (não, não estou a contar com as sessões de cinema ao ar livre com uma lotação de doze pessoas) e, para acrescentar ao entusiasmo, já era um filme pelo qual ansiava desde o ano passado. As saudades que tinha do mundinho de bonecas “andersoniano” tão meticulosamente construído e dos diálogos demasiado pormenorizados para acompanhar fizeram com que as minhas expetativas para o filme estivessem elevadas.
Felizmente, o filme correspondeu às expetativas. Desde o início, acompanhamos quatro histórias diferentes que correspondem a quatro segmentos do jornal “The French Dispatch” – viagens, cultura, política e comida – que depois são compiladas juntamente com o obituário do editor do jornal para assinalar a última edição do periódico. Cada uma destas histórias é escrita por um jornalista diferente, tendo um elenco diferente e uma atmosfera distinta, mas mantendo sempre o mesmo humor caricato nas circunstâncias e nos detalhes dos cenários (ADOREI as várias referências visuais ao álbum de covers de músicas pop francesas que o Jarvis Cocker lançou para acompanhar o filme).
O “The French Dispatch” é cativante do início ao fim e constitui, sem dúvida, um dos melhores filmes do Wes Anderson.
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Há certos momentos na vida que apenas podem ser atribuídos ao destino: ter tido a possibilidade de ver a estreia do “The French Dispatch” grátis na Áustria enquanto em Erasmus foi uma delas. No início tinha poucos incentivos para ir ao cinema: os filmes são quase todos dobrados em alemão, os preços mais caros e o bom tempo usado para atividades ao ar livre.
Tudo isso mudou com o Leo Kino, um cinema focado em filmes independentes, legendados e de várias nacionalidades. Um dia fatídico em outubro, anunciaram a iniciativa da “Entdeckungswochen” (Semanas de Descoberta) entre os dias 18/10 - 26/11, todos os filmes no seu programa iriam ter entrada livre para menores de 25 anos. Sendo admiradora de Wes Anderson de longa data, naturalmente organizei um grupo de 20 amigos para a estreia do seu filme mais recente. Foi um filme mágico, com os elementos característicos das histórias nostálgicas e “bittersweet” contidas em cada secção do jornal epónimo, um elenco incrível dedicado às personagens ecléticas e música linda no piano pelo Alexandre Desplat.
O elemento principal é o seu estilo visual expressivo que, apesar de experimentar com técnicas novas neste filme, continua dominado pela simetria, combinações distintas de cores e o enquadramento e movimento da câmera em duas dimensões, como o folhear das páginas num livro de contos.
Autoras: Inês Borges [1] e Zita Matias [2]
Edição de Imagem: Catarina Simões